Biografias inesquecíveis

A trupe dos esquecidos, A fascinante experiência teatral empreendida por um grupo de figurantes — montar as piores peças de todos os tempos e representá-las totalmente bêbados, para emoções diferentes sobrevirem em cena.

Tentando comprovar a tese pós-acadêmica de que do confronto de obviedades (e de porres) poderiam resultar atuações singulares, diferentes e esquisitas, e únicas, no sentido de irrepetíveis por desmemória, este corajoso grupo apostou o próprio fígado em cena. Seus membros seriam salvos por toda uma gama interessante de improvisações dramáticas, de trocas de fala inconscientes, de intersecções entre textos e personagens diferentes, de inovações de trama e de picos de dramaticidade, picos tão memoráveis, se bem que apenas para os espectadores, os atores jamais se lembrariam. Mas afinal… o que mais interessa? A singularidade estaria acima dos erros, que, digamos, desconheciam até onde ela poderia sobrevoá-los, no afã de fugir dos impactos. Impactos que, superados, jogavam sujo às vezes, pegando os heróis pelo pé. Mas os sobreviventes garantem: mesmo com tantas dores de cabeça, tinha valido a pena aquela porra, quer dizer, aquele porrre. Tinha valido a pena… para alguém. Não importa quem, nem importam os rótulos. Importa mesmo é o gosto.

Fala, trupe: “Olha… se manter em pé… já era um puta desafio! Mas você tem de ser profissional… até quando esquece o que isso significa. O importante é o durante da coisa, você tem de aproveitar, desfrutar, se dedicar… depois é só dor de cabeça.”

“Era você olhar lá na platéia, cara… e sempre tinha o dobro de pessoas…! A coisa deu certo, entende? Em todo caso é um caminho aí a ser bebido… quer dizer, você entendeu…”

“Nem parecia eu… a atuação pode até ter sido memorável então! Pra alguém.”

“Olha, urinar no palco de vez em quando… tudo bem… Fiz? Até aceito. Agora, aquele balde de vômito verde na plateia, daquela vez, era cenográfico… o balde… e o resto era até importado… E daí? Alguém morreu por causa disso? Não, e o espetáculo foi em frente, mesmo sem mim…. foi o que me disseram…”

“Se não fosse aquela temporada, eu nunca ia descobrir que eu sou alcóolatra. Agradeço por isso.”

“E tem aquela outra vantagem, né? Se me perguntarem, um dia, se eu fiz essa porcaria, eu sempre vou poder responder: que eu me lembre, não! Ré ré ré!”

“O melhor mesmo é que você bebia, bebia… e, se a mulher reclamasse, você sempre podia dizer: tô ensaiando, porra!”

“Era uma liberdade de expressão…! Aprendi alguma coisa muito importante com isso tudo……… ããããã…….. e um dia eu ainda vou lembrar o que é.”

Seno e Cosseno, A temperamentar dupra sertaneja de irmãos siamês, marcada pelas tragédia e pela superação danada de boa dessas tragédia. Hii, si sigura aí, peão!

Foi um início danado de difíce, naqueles tempo. Cada um queria que queria de ser premera voz na dupra sertaneja dos ambos dois, um insistia com o outro que quiria ter a própia banda e cantá ele suas própia música, era questã de firmar personalidade — e depois cada um ainda insistia um com o otro: “Eu vou ter minha banda, sm, senhor, e vou cantar as música da forma mais arta e aguda pussíver, tá pensando o quê? Todo o mundo vai ouvi, inclusive lá longe, fora de Goiânia, essa desgraceira, irmão!

Mais ainda, os estilo ia ser totarmente deferente: um ia cantá uma música totarmente deferente da música que o otro tava cantano na hora. Pois é, aí deu pobrema.

A dupra, vejam vocês, começou a brigar, se estapeava dia e noite no meio dso show. Eles queria, mas não dava pra separar, era difícir, os dois era muito próximo. Daí eles ficaro bebum e acabaro chegando lá num pico beem longe, lá donde nem dá pra ver: o anonimato totar. Essa foi uma época mesmo muito difícir pra eles dois, Vige Maria! Ninguém queria ouvir aqueles dois se esgoelando no palco, cada um cantano uma música deferente do outro, era duro de ouvir. Você ficava susrdo logo dos dois ouvido! Duro eles tava ficando também, aliáis.

Ademais a intolerância dos dois ainda por cima sofreu punição por Deus Nosso Senhor, móde que, de tanta gritaria um no ouvido do outro, os dois ficaro surdinho, surdinho. Cada um dum ovido. Ainda bem que tem dois.

Mas eis que, ora essa!, então o negócio mudou de repente e pra mió. Isso porque o óbvio cantô de uma força maior nos ouvido daqueles dois turrão. E eles se resolvero entre si e pusero as deferença de lado, móde de resorvê as coisa duma vez por toda. Daí eles olharo pro lado deles e um encontrô o outro. Hii, cê tai? Um oiô pro outro do lado e eles viram uma coisa, eles era como aqueles arto falantes. Mas uns arto falantes deferente: as linha melódica se juntava e coincidia, e, no meio delas, nalgum lugar no meio lá, paricia que o não cantado ficava com espaço pruma vóiz que ia complementá a cantoria irritante com otra coisa: uma melodia danada de bunita. Uma melodia que não era só reproduzida, não, senhor.

Pois é, eles se olharo e daí começaro a cantá: com os sertanejo é assim, cuidado, eles se vê e logo começa.

Agora não tinha mais premera voz e segunda voz, não, senhor! Agora era tudo em unísso mesmo. Daí, bocadinho mais tarde, eles criaro inté, com a banda performática lá deles (a Cia Idear), um estilo: era o sertanejo-heavy-metal-operístico-político que nascia. Um estilo bem do xucro, e, além de ficá popularizano os protetor auricular, essa coisa dói e irrita não só os ovído da gente.

Vige! Como canta arto esses home! Mas inté que é uma cantoria bunita…!! Olha eles lá, no parco. O uniforme caiu bem nos dois.

“Nóis era dois e agora semus uuum!!

E todo mundo baxou pra um também!”

É isso aí, é uma solidaredadi de ensurdecer o peão, peão. Nóis era dois e agora semus uuuuum!

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