Eternos e malcriados
A atualíssima e histórica série de entrevistas com personagens clássicos da literatura. Eles falam dos sofrimentos advindos de sua má fama e de suas falsas vicissitudes tão alardeadas, bem como interpretadas de forma tão invasiva e parcial. Com competência, análises acuradas, respeito ao outro e mente aberta, o texto aborda o lado mais crítico, mais insatisfeito de Adão, Édipo, Fedra, Don Juan, Candide, Dorian Gray, De Charlus, Drácula, Riobaldo, Hermógenes, Prometeu, Hamlet, Macbeth, Iago, madame Bovary, Quasímodo, Brás Cubas, Capitu, Fausto, Mefistófeles, conselheiro Acácio, Ricardo Reis, etc., Contradizendo em muito as expectativas, estas conhecidas figuras reclamam veementemente de seus autores, todos tão displiscentes, distantes, tarados, malucos, bêbados, onipotentes, preocupados com coisas tais dinheiro e problemas particulares. Em declarações comoventes, afirmam, é de fato uma lástima deles só ter ficado para o grande público o pior ou o mais trágico, ou o mais degradante, o mais ridículo, o mais patético, o mais visível, o mais chamativo, o mais exótico, o mais sensacionalista — o mais desvantajoso. Em relances de, um termo possível é retrotranscendência”, os personagens infelizes chegam mesmo a discorrer sobre suas vidas tão felizes e comuns, de antes de serem criados. Um período glorioso! Neste período, eles eram cidadãos comuns, totalmente fraternos, ajudavam o próximo, eram legais, todo mundo dizia, não tinham ambição, não falavam mal de ninguém, comiam sucrilhos e cereais de manhã, tomavam leite de soja, frequentavam academia, não tinham preconceitos, eram a favor da ecologia, etc. A criação foi na realidade um problema. Ela lhes deixou certas marcas indeléveis e estas marcas até hoje perduram e doem. Este é mais um livro a tentar reduzi-las.
Não perca. Se não gostar, reclame também.