A manhã a princípio não parecia diferente de tantas outras. Mecanicamente, ele se levantou e seguiu à rua e mecanicamente seguiria na vida. Apesar da submetralhadora em sua sacola.
Seria isso mesmo?
Definitivamente, não, não ia ser um dia nada comum. Ele resolveu de vez dentro do trem e depois se sentiu até bem, a ideia clara e impiedosa, o ar claro invadindo seu nariz, em lufadas, a nutri-lo do odor do dia, da fumaça dos ônibus e caminhões, do movimento, do sol.
Àquele dia estava reservado “aquele feito” portentoso, marcante, noticiável. Uma inexplicação de desfecho, um X final, uma despedida de muitas mãos. Tudo era propício para sua cena trágica e ninguém a interromperia.
Não obstante, emboscado pelas histórias em paralelo e pela História, premido pelas circunstâncias ele acabou por fazer algo muito diverso do que havia pretendido, algo surpreendente noutra clave. E, mandando balas, trouxe à baila, na verdade, um novo significado para o termo “sobrevivência.”