De tantos eus, sobrou o único
Num futuro não muito distante, o já lendário pirata da ciência Mário Roda se apossa da fórmula da clonagem instantânea. Em obediência à sua sina, resolve ele daí optar pela autorreprodução em grande escala. Roda sempre houvera pretendido ser ele mesmo; talvez se ele fosse ele próprio várias vezes a razão desta insistência, desta obsessão, em dado momento até nem mais importasse.
A redenção, a glória instantânea e a grana vêm quando, depois de muitos empreendimentos irregulares errados, Roda cria o célebre e pioneiro Parque Paraíso da Caça. No Parque Paraíso dos Abates, circulam vários Mários Rodas, todos caracterizados de políticos e de figuras públicas e históricas detestadas, bem como de ideólogos marxistas e conservadores.
Ideia de jerico inovadora, o Parque Paraíso é diversão certa. Lá vai um Clonerroda vestido de político dos pés à cabeça, acima de sua cabeça uma espécie de placa, em forma de balãozinho, e nela a fala mais famosa e enojante daquela figura pública. Divirta-se então, erga o seu belo rifle alugado logo à portaria do Parque, orgulhe-se de sua espingarda novinha, recém-comprada no parque, delicie-se, como num filme, de seu AR-15, dê graças a Deus por sua bazuca e… apenas mire.
Mas mire e aperte rápido o gatilho: os Clonerrodas não são fáceis de abater, eles vivem a correr, zunindo, logo percebem o destino de todos os lotes de clones. Depois pague a taxa de limpeza do local e vá para casa igualmente limpo. É a vida: não ser alvo, essencial.
Moralmente condenável? Ou uma forma inovadora de se aliviar a culpa social de modo mais genérico? Acompanhe.